Não se enganem. Nada do que a extrema direita faz no Brasil é de forma despropositada. O objetivo é um só: manter seu exército mobilizado nas redes sociais e se retroalimentar dessa mobilização. Do ponto de vista estratégico para a manutenção de espaços de poder, a ação é eficaz. Mas isso apenas evidencia a pobreza ideológica e a absoluta falta de projetos para o país.
Sempre foi assim. Desde o “kit gay”, passando pela chamada ideologia de gênero, pelo racismo, homofobia, aborto, comunismo, Venezuela, “ditadura da esquerda”, vacinas, terra plana…
A cena se repete, e quem se dispõe a ter mais do que dois neurônios e a usá-los é obrigado a conviver, cada vez mais rotineiramente, com polêmicas vazias. Nos últimos dias, tivemos que assistir a um ex-cantor, em uma live etílica, pedir o cancelamento de um especial de TV porque a emissora resolveu seguir o protocolo e convidar autoridades para a inauguração de um canal — entre elas, o atual presidente da República.
E agora, pasmem: nossas retinas mal conseguem desviar de políticos e seguidores da extrema direita propondo um boicote à marca de sandálias Havaianas por conta de uma publicidade que fez um trocadilho sugerindo que entremos no ano novo com os dois pés, e não apenas com o pé direito.
Está cada vez mais difícil ser lúcido no Brasil. Então, como bom supersticioso, vou entrar no ano novo de sandália Havaianas e com o pé direito.